quarta-feira, 16 de maio de 2012

PROJETO VALORES


Justificativa
Visando uma melhor convivência em sala de aula e ressaltando a importância do trabalho coletivo no processo de construção do conhecimento rumo a um desenvolvimento social baseado na justiça e no respeito mútuo; propusemos durante o ano de 2010, fazer uma reflexão sobre os valores na escola dando continuidade no lar.
            Os PCN’s afirmam que “cabe à escola empenhar-se na formação moral de seus alunos...” (p. 32)
            A cidadania não deve ser construída por vias burocráticas e esse desejo não deve ficar só no papel, nos livros, nos documentos, mas deve deixar de ser utopia e se tornar real, no convívio escolar. Deve fazer parte dos projetos escolares, da proposta pedagógica, do dia-a-dia. Essa meta deve ser seguida e conquistada por todos os educadores.
            Por isso, percebemos que alguns valores e atitudes devem e podem ser trabalhados na escola, de preferência por todas as turmas e professores, para que todos “falem a mesma língua”, surtindo assim mais efeito. Através destas reflexões e observações, percebemos a necessidade deste projeto. E ele se faz urgente nesta escola e em muitas outras.
            Para finalizar, mostrando a importância deste projeto, concordamos com Herkenhoff quando diz “não podemos ter, uma escola desligada de seu compromisso social, omissa em face de seu papel de transformação da realidade...(p.30, 1996), e é este o nosso compromisso, enquanto educadores. Vamos fazer a nossa parte neste processo de construção, tão importante.

Objetivos
 Este projeto visa a valorização do ser humano, resgatando a importância das virtudes, como tendência para o bem, que devem ser ensinadas e partilhadas desde a mais tenra idade, levando à construção da cidadania e da autonomia.
ü  Sensibilizar os alunos em relação à importância da boa convivência para criar um ambiente agradável na sala de aula
ü  Desenvolver reflexões sobre ações corriqueiras. Reconhecer que, desde bem pequeno, podemos desenvolver boa educação e boas maneiras.
ü  Melhorar a disciplina na sala criando regras de convivência e dinâmicas para perceberem algumas atitudes que causam a indisciplina.

Desenvolvimento:
    Cada professor confeccionará com seus alunos um mural: “ O jardim das virtudes” (sugestão / cada sala poderá fazer um concurso entre os alunos e escolherem o próprio nome) neste mural haverá joaninhas ( uma para da criança) as joaninhas receberão suas pintinhas, após seus respectivos donos  demonstrarem atitudes voltadas para a construção e vivência  de valores.
    Os alunos segundo os quais suas joaninhas receberem a maior quantidade de pintinhas receberá um menção honrosa  ao final do ano letivo.


Eu e o outro
POR QUÊ? Perceber a importância do outro na nossa vida, aceitar as diferenças, respeitar os colegas, professores e funcionários desenvolver atitudes de solidariedade, respeitar e ajudar os idosos, os portadores de necessidades especiais, as crianças de outras raças e culturas.
PERÍODO:  2o bimestre
SUBTEMAS:
Maio- Igualdades e diferenças – respeito à diversidade
Junho- Justiça, Verdade e Honestidade
Junho- Amizade, amor, afeto
PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS
·       Textos, poesias, mensagens, fábulas;
·       Criação do Estatuto da Sala (com regras e multas);
·       Discussão sobre as necessidades básicas do homem;
·       Debate sobre os idosos, portadores de necessidades especiais, o menor abandonado, diferentes realidades e situações;
·       Produção de texto, Relatório e ilustração;
·       Dinâmicas;
·       Confecção de matérias para o jornal Oficina de Ideias;
·        Entrevistas com especialistas;
·       Amigo Anjo, correio elegante;
·       Exploração de cartazes, figuras e mensagens;
·       Conversa sobre os temas trabalhados.


Eu e os problemas do mundo
POR QUÊ? Conhecer e discutir os problemas que afligem o mundo e o nosso município, perceber que podemos ajudar e evitar alguns, discutir causas e soluções, estimular a reflexão sobre estes problemas, perceber que alguns problemas estão bem perto da gente.
PERÍODO: 3o e 4O Bimestre
SUBTEMAS:
Agosto: Destruição do ambiente escolar, o que fazer com o lixo
Setembro: Violência e guerras, necessidade da paz
Outubro: As crianças (diferentes realidades)
Novembro: Doenças e vícios
Dezembro:Avaliação do projeto e culminância
PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS
·       Pesquisa sobre os temas abordados;
·       Debate, filmes;
·       Cartazes, painéis;
·       Campanhas de  e solidariedade , Confecção de panfletos para distribuição nas campanhas;
·        Recorte e estudo de reportagens;
·       Confecção de matéria para o jornal Oficina de Ideias, sobre o tema;
·        Trocar experiências e partilhar o conhecimento adquirido;
·       Júri simulado sobre os temas propostos;
·        Dinâmicas e vivências;
·        Palestra e entrevistas (policiais, médicos e outros profissionais);
·       Dramatizações;
·        Poesias, textos informativos, fábulas, mensagens;
·       Exploração de figuras;
·       Exploração de situações atuais e do dia-a-dia, relatórios;
5. DURAÇÃO
Todo o ano letivo
6- CULMINÂNCIA
7-AVALIAÇÃO
A avaliação será composta de observação, análise das atividades práticas e auto-avaliação, através de:
·       Debate após cada Unidade de Estudo, para ver o que foi aprendido, o que mudou o que poderá mudar;
·       Ficha de desempenho, preenchida pela própria criança, após o debate;
                Durante o bimestre o professor observará o desempenho de cada um, bem como anotará as dúvidas, críticas, sugestões e dificuldades, com isto será possível rever o projeto e corrigir possíveis desvios.
A alegria não chega apenas no encontro do achado,
 mas faz parte do processo da busca.
 E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura,
 fora da boniteza e da alegria.
                                                                                 
Paulo Freire
                                                                                                                
Que Deus ilumine sua procura, seu ensinar e aprender!
Adriana Ferraz
2011

Sugestões de histórias para trabalhar o projeto



O Segredo da Onça Pintada

Aut or: Adeilson Salles 
O dia amanheceu lindo na mata. Pássaros cantavam alegremente as belezas da natureza. O sol acariaciava as folhas das árvores com seus raios bem quentinhos.
O movimento das águas clarinhas do riacho - chuá ...chuá...chuá...- entoava uma delicada música de agradecimento a Deus.
Veados, capivaras, antas  e tantos outros animais bebiam nas águas do riacho que, tais quais um espelho, traziam o céu para a terra.
Nás árvores, macacos pulavam de galho em galho fazendo muita bagunça.
De repente, tudo silencia. Os animais, bem quietinhos, erguem as orelhas como a ouvir um sinal de perigo. Tudo agora é silêncio absoluto. Somente se ouve o barulhinho das águas do riacho:
- Chuá..chuá..chuá.....
Dona Anta, prevendo um perigo que se aproxima, olha com preocupação para seus filhinhos, e eles, entendendo o aviso, vão para bem pertinho da mamãe.
 Do alto da árvore vem o grito de alerta dado pelo mico-leão-dourado:
- Lá vem a Dona Pintada, corra turma, que ela vem aí!!!
O susto foi geral e grande a confusão. Em segundos, todos os animais fogem. Araras voam rapidamente, seguidas dos papagaios e outros pássaros. Até os peixes acostumados a nadar na superfície das águas buscam a parte mais profunda do riacho.
Ouve-se, então, um rosnar aterrador:
- GRRUUUAAARRRRRR!
A passos lentos e credenciados, ela surge em meio às folhagens. Sim, era ela mesmo, a temida onça-pintada. Aproxima-se das margens do riacho e, entre gemidos e lamentações, bebe um pouco de água.
Epa!!! Entre gemidos e lamentações???????
Sim, amiguinhos, a terrível onça-pintada gemendo e chorando, dizia:
- Ai, ai, ui, ui, pobre de mim, só com uma onça infeliz como eu é que isso poderia acontecer. Que destino o meu, ai, ai, ai! Até quando vou carregar este segredo?
Alguns macacos escondidos nas árvores ouviam as lamentações da Dona Pintada, sem entender o que estava acontecendo. E ela continuava:
- Se alguém descobrir o meu segredo estarei desmoralizada, ai, ai, ai.
A onça-pintada tomou um pouco de água e, ao ver a imagem de sua bocarra refletida na água, deu um grito assustador:
- AAAAIIIIIIIII!!!!!!!!
Ainda se refazendo do choque que a sua imagem lhe causara, Pintada ouve uma voz baixinha que lhe diz:
_ O que está acontecendo, Dona Pintada?
Procurando intimidar a intrometida, ela rosna ferozmente - GRRUUUAAAARRRRRRR!!!!!!
- e outros animais ouvem esse rosnar muito longe dali.
- Calma, calma, só estou querendo ajudar!
A recém-chegada era a velha e sábia xoruja, que fora atraída para o riacho pelo choro de pintada.
Pintada tentou manter a pose e a fama de violenta, e disse:
- Saia já daqui, sua bisbilhoteira do olho grande, vá cuidar da sua vida, vá!
- Por que a senhora está chorando, Dona Pintada? - insistiu a coruja.
- Onça como eu não chora, se você não for embora daqui, eu vou comê-la como café-da-manhâ.
A ameaça da Dona Pintada vinha acompanhada de ais e uis:
_ Ai, ui, ai, ui.
- Tem certeza de que a senhora não quer me contar por que está gemendo? - continuava insistindo a coruja respeitosa.
- Você é como toda a bicharada desta floresta, está doidinha para descobrir o meu segredo, não é?
- Mas eu nem sabia que a senhora tinha um segredo! Tem mesmo?
percebendo que falara demais, Dona Pintada tentou consertar:
- Bem...quer dizer...isso é conversa do macaco-prego, aquele invejoso. Como eu sou a mais poderosa da floresta, ele tenta destruir a minha imagem. Quem está por baixo sempre quer falar mal de quem vive por cima como eu.
- Eu nunca soube que a senhora guarda um segredo. Para mim é novidade.
 - Ai, ai, ai, chega dessa conversa boba, ui,ui,ui.
- Só estou tentando ser sua amiga, vim até aqui atraída por seu choro.
- Não preciso de amiga, principalmente de uma como você, metida a saber tudo.
- Dona Pintada, nós precisamos ter amigos, já que vivemos todos juntos na mata.
- Pois sim! Amigo meu é barriga cheia.
E, dizenso isso, Dona Pintada rosnou ameaçadoramente:
- GRRUUUAAARRRRRR, ai, ai, ui, ui.
Com calma, Dona Coruja disse:
- A senhora está precisando de auxílio. Ora, ora, deixe-me ajudá-la! Está sentindo alguma dor?
- Noite passada, saí para caçar e mordi uma tartaruga, quer dizer, me dei mal naquele casco duro, ai,ai,ai.
Falando assim, Dona Pintada olhou para todos os lados e, sem conseguir se controlar, começou a chorar. Chorou...chorou...chorou...
- Não fique assim, o que está acontecendo? Fala, filha de Deus! - insistiu Dona Coruja.
- Você me chamou de filha de Deus?
- É claro que chamei. Você também é uma filha de Deus.
- E Deus existe? - perguntou a onça espantada.
- É claro que existe, foi Ele que nos criou.
- E como você sabe que Ele existe? - desafiou Dona Pintada.
- Ah! basta olhar à sua volta e verá tudo o que Ele fez.
Olhando para todos os lados, Dona Pintada resmungou:
- Não estou vendo nada demais...somente a floresta onde moramos!
Virando os enormes olhos, Dona Coruja respondeu com paciência:
- Então, Dona Pintada, é isso mesmo...a nossa floresta é criação divina. Tudo o que não foi feito pelo homem, por Deus foi feito.
- Como assim?
- É verdade, Deus criou as florestas, os animais, os homens...
Sem conseguir conter o espanto, a Pintada interrompeu Dona Coruja:
- Criou os animais?
- Sim senhora, Deus nos criou!
- Então Deus é bom?
- Deus é eterno, imutável, imaterial, onipotente, único, soberanamente justo e bom - Dona Coruja explicou de um fôlego só.
- Puxa! Ele é mesmo tudo isso? - a Pintada perguntou desconfiada.
- Sim, Ele nos ama muito!
A onça então começou a chorar. Chorava...chorava...chorava...
- Mas por que a senhora chora tanto, Dona Pintada?
- Se os animais são filhos de Deus, Ele deve estar triste comigo -  a Pintada afirmou soluçando.
- Por que Deus estaria triste com a senhora?
- por quê?! A senhora ainda pergunta, Dona coruja? Eu já perdi as contas de quantos filhos de Deus eu já comi.
Sorrindo a coruja respondeu:
- A senhora comeu animais porque eles fazem parte de sua cadeia alimentar, não foi por maldade, foi por necessidade.
-É mesmo? - indagou a Pintada, suspirando aliviada.
- Sim senhora. Eu não lhe disse que Deus é soberanamente justo e bom, quer dizer, muito, muito justo e bom?
- Disse!
- Pois então, tudo na vida acontece de acordo  com a sabedoria do Criador.Deus sabe de tudo que precisamos. Não chore mais.
- Está bem, eu acredito na senhora!
A Pintada pensou, pensou... pensou mais um pouquinho e disse resolvida:
- Acho que vou confiar na senhora, Dona Coruja, vou lhe contar o meu segredo.
- Se quiser confiar em mim, eu garanto, por todas as minhas penas, que ninguém nesta floresta irá saber.
Confiando pela primeira vez em alguém, Dona Pintada disse:
- Se é assim, vou lhe contar, a senhora promete que não vai rir de mim?
- Prometo!
- Meu segredo é este - e abrindo a bocarra, mostrou o seu segredo.
Os olhos da Dona Coruja pareceram saltar, sem acreditar no que viam. E, impressionada, afirmou:
- Não acredito no que estou vendo!
- Ai, ai, ai, pode acreditar, Dona Coruja!
- A senhora só tem um dente? Preciso ver isso mais de perto!
- Você prometeu não rir de mim!
- Promessa é dívida, não vou rir da senhora.
Vendo que não corria perigo, a coruja pousou perto da Dona Pintada, que disse com tristeza:
- este é o meu segredo, ai,ai,ui,ui. Por isso eu procuro amedrontar os outros animais com meus grunhidos, para que todos se afastem e eu não deixe de ser respeitada. Imagine, Dona Coruja, só tenho um dente e agora ele está doendo por causa do casco da tartaruga.
A coruja, com todo cuidado, falou:
- Mas a senhora não precisa ter vergonha de ter apenas um dente, todos nós temos os nossos problemas. Eu também tenho um segredo.
- E qual é? - Dona Pintada perguntou curiosa.
- Olhe bem para os meus olhos! - pediu a coruja, se aproximando mais da onça.
A Pintada olhou admirada para Dona Coruja e, rindo, mostrando seu único dente, disse:
- Com o respeito que lhe devo, Dona coruja, a senhora é vesga?
- Sou vesga sim, e não me envergonho disso.
Nossas diferenças não podem nos impedir de ter amigos. Somos todos iguais perante Deus.
Pela primeira vez na vida, a onça banguela deu uma sonora gargalhada mostrando para todo mundo o seu segredo. Ela olhava para Dona Coruja, que também rachava o bico de tanto rir, sem saber na verdade para onde a coruja olhava.
Ouviu-se então uma gargalhada geral vinda das moitas e árvores. Os animais, antes escondidos, agora sem ter mais medo da dona Pintada, aproximavam-se rindo muito.
E, entre eles, vinha Dona Tartaruga que mostrava aos outros bichos um furo no seu casco.
E todos, muito contentes, às margens do riacho, puderam aproveitar aquela manhã para se tornarem mais amigos, respeitando as diferenças uns dos outros.
E vocês, que acabaram de descobrir o segredo da onça-pintada, também sabem aceitar as diferenças dos seus amiguinhos?


A Descoberta da Joaninha
                                             Bellah Leite Cordeiro
  Temas: Amizade, caridade, amor ao próximo, bondade, fraternidade, solidariedade...
  Dona Joaninha vai a uma festa em casa da lagartixa.
 Vai ser uma delícia!
 Todos os bichinhos foram convidados...
 Dona Joaninha quer ir muito bonita!
 Porque, assim, todo mundo vai querer dançar e conversar com ela!
  E ela poderá se divertir a valer!...
  Por isso, colocou uma fita na cabeça, uma faixa na cintura, muitas pulseiras nos   braços e ainda levou um leque para se abanar.
 No caminho encontrou Dona formiga, na porta do formigueiro, e disse:
 - Bom dia, Dona Formiga!
 Não vai à festa da lagartixa?
 - Não posso, minha amiga. Ontem fizemos mudança e eu não tive tempo de me preparar...
 - Não tem problema! Tudo bem! Eu posso emprestar a fita que tenho na cabeça e você vai ficar linda com ela! Quer?
- Mas que legal, Dona Joaninha!
Você faria isso por mim?
- Claro que sim! Estou muito enfeitada! Posso dividir com você.
  E lá se foram as duas. A formiga radiante com a fita na cabeça.
  Dali a pouco encontraram Dona Aranha, na sua teia, fazendo renda.
 Ao ver as duas, a aranha falou:
  - Oi! Onde vão vocês duas tão bonitas?
  - À festa da lagartixa! Você não vai?
  _ Sinto muito! Não posso...tive muitas despesas e sem dinheiro não pude me preparar para a festa!
  Não seja por isso! disse a Joaninha - Estou muito enfeitada! Posso bem emprestar as minhas pulseiras...Vão ficar lindíssimas em você!
 - Que maravilha! disse a aranha entusiasmada.
 - Sempre tive vontade de usar pulseiras nos braços! Dona Joaninha, você é legal demais! Sabia?
 E dona Aranha, muito feliz, acompanhou as amigas.
 Logo adiante encontraram a taturana. Como sempre, morrendo de calor!
 - Oi, Dona Taturana! Como vai?
- Mal! Muito mal com esse calor!...Sabe que nem tenho coragem de ir à festa da lagartixa?
 - Ora! Mas para isso dá-se um jeito! disse a Joaninha muito amável. - Poderei emprestar o meu leque.
 E lá se foi também a taturana, felicíssima, abanando-se com o leque e encantada com a gentileza da amiga.
 Mas, logo depois, deram de cara com a minhoca, que tinha posto a cabeça para fora da terra para tomar um pouco de ar.
- Dona Minhoca não vai à festa? disse a turminha ao passar por ela.
- Não dá, sabe? Eu trabalho demais! Quase não tenho tempo para comprar as coisas de que preciso... E, agora, estou sem ter uma roupa boa para vestir! Sinto bastante! Porque sei que a festa vai ser muito legal! Mas, que se vai fazer...
 - Ora, Dona Minhoca - disse a joaninha com pena dela. - Dá-se um jeito...Posso emprestar a minha faixa e com ela você ficará muito elegante!
A minhoca ficou contentíssima! E seguiu com as amigas para a festa.
Dona Joaninha estava tão feliz com a alegria das outras que nem reparou ter dado tudo o que ela havia posto para ficar mais bonita.
 Mas, a alegria do seu coração aparecia nos olhos, no sorriso, e em tudo o que ela dizia! E isso a fez tão linda, mas tão linda que ninguém na festa dançou e se divertiu mais do que ela!
Foi então que a Joaninha descobriu que para a gente ficar bonita e se divertir, não é preciso se enfeitar toda.
  Basta ter o coração bem alegre, que essa alegria de dentro deixa a gente bonita por fora! E ela conseguiu essa alegria fazendo todo aquele pessoal ficar feliz!


A Margarida Friorenta
Fernanda Lopes de Almeida
 Temas: Amor às plantas, boa ação, bondade, amizade. carinho, caridade, afeto...
   Era uma vez uma Margarida num jardim.
 Quando ficou de noite, a Margarida começou a tremer.
 Aí, passou a Borboleta Azul.
A Borboleta parou de voar.
 - Por que você está tremendo?
    - Frio!
- Oh! É horrível ficar com frio! E logo numa noite tão escura!
  A Margarida deu uma espiada na noite.
   E se encolheu nas suas folhas.         
   A Borboleta teve uma idéia:
- Espere um pouco!
   E voou para o quarto da Ana Maria.
   _ Psiu! Acorde!
   - An! É você, Borboleta? Como vai?
   - Eu vou bem. Mas a Margarida vai mal.
   - O que é que ela tem?
   - Frio, coitada!
   - Então já sei o remédio. É trazer a Margarida pro meu quarto!
   - Vou trazer já!
   A Borboleta pediu ao cachorro Moleque:
   - Você leva esse vaso pro quarto da Ana Maria?
   Moleque era muito inteligente.
   E levou o vaso muito bem.
   Ana Maria abriu a porta para eles.
   E deu um biscoito ao moleque.
   A Margarida ficou na mesa de cabeceira.
   Ana Maria se deitou.
   Mas ouviu um barulhinho.
   Era o vaso balançando.
   A Margarida estava tremendo.
  - Que é isso?
   - Frio!
   -Ainda? Então já sei! Vou arranjar um casaquinho pra você.
   Ana Maria tirou o casaquinho da boneca.
   Porque a boneca não estava com frio nenhum.
   E vestiu o casaquinho na Margarida.
   - Agora você está bem. Durma e sonhe com os anjos.
   Mas quem sonhou com os anjos foi Ana Maria.
   A Margarida continuou a tremer.
   Ana Maria acordou com o barulhinho.
   - Outra vez? Então já sei. Vou arranjar uma casa pra você!
   E Ana Maria arranjou uma casa para a Margarida.
    Mas quando ia adormecendo ouviu outro barulhinho.
   Era a Margarida tremendo.
    Então Ana Maria descobriu tudo.
   Foi lá e deu um beijo na Margarida.
   A Margarida parou de tremer.
   E dormiram muito bem a noite toda.
   No dia seguinte Ana Maria disse para a Borboleta Azul:
   _ Sabe, Borboleta? O frio da Margarida não era frio de casaco não!
   E a Borboleta respondeu:
   _ Ah! Entendi!

A missão das ovelhinhas

Ana Alice Vou
                  Em um pequeno sitio, viviam vários animais: um cavalo, um burro, uma vaca, um galo e algumas galinhas, e também um carneiro, uma ovelha e seu filhote, que haviam sido comprados ha pouco tempo.
                 Seu Jose, o dono do sitio, cuidava muito bem de seus animais. Ele sabia que cada um era muito importante para o sustento de sua família.
                 Os animais conversavam entre eles. Cada novidade, La no sitio, já era motivo para muitos comentários e eles acabavam, quase sempre, falando da vida dos outros. Somente os carneiros não entravam nessas conversas.
Cada um se julgava melhor do que o outro:
- São nos pomos ovos! - dizia uma das galinhas.
- Ora, sem meu leite as crianças passam fome - retrucava a vaca.
- Se não fosse eu - falava o cavalo - nosso dono teria que andar a pé.
- Bem -  dizia o burro, levantando as orelhas - se eu não  puxar o arado aqui ninguém come!
Olhando para os carneiros, o burro completava:
- Piores são os carneiros, que não servem para nada! São comem o dia todo, não põem ovos, não dão leite, não cantam e também não trabalham!
- ETA família folgada! - dizia a vaca.
                    Um dia, o carneiro ouviu o que diziam de sua família. Muito triste, foi para perto de sua mãe e perguntou:
- Mamãe, nos, os carneiros, não serviu para nada?
Carinhosamente, sua mãe respondeu:
- Filho, Deus criou a Terra, o Sol, a água, as plantas, os homens, os animais. Tudo foi feito de uma forma tão perfeita, que não existe nada no mundo que não tenha o seu valor. Todos precisamos uns dos outros.
                 Neste momento, o burro, que era muito curioso, já estava ali, com as orelhas em PE, escutando a conversa e ouviu o carneirinho dizendo:
- Mamãe, que nos dependemos da água, das plantas, do sol, eu já sei. Eu só não sei para que servem os carneiros. Eu não quero ser inútil.
                Quando sua mãe ia explicar, chegou seu Jose. Ele pegou o carneiro e a ovelha e levou-os para o galpão que ficava ali perto. O carneirinho ficou aos berros. Desesperado, ele gritava:
- Mamãe! Papai! Voltem! Voltem!
Todos os animais ficaram olhando. Então, o cavalo falou:
- Bem que o burro disse que eles eram inúteis... Devem ter sido vendidos...
- Não fale assim perto do filhote, coitadinho...certamente terá o mesmo fim... - disse a vaca.
O burro, que tinha ouvido a conversa entre a mãe e o filhote, falou:
- não sei, não, acho que nos estamos errados. Eu ouvi uma conversa que me deixou curioso, e melhor esperar para ver o que acontece.
Depois de algum tempo, o carneirinho ainda chorava, chamando por seus pais. De repente, a porta do galpão se abriu. Todos os animais olharam para ver o que tinha acontecido.
De lá de dentro saíram o carneiro e a ovelha, totalmente pelados. Magros, sem seus pelos, foram imediatamente para perto do filhote.
No pasto, gargalhada geral. Todos falavam e riam ao mesmo tempo:
- Olhem só, como são magrinhos! Pareciam ser tão grandes...
- Que horror! Pelados!
- Nunca vi coisa tão feia!
O burro, então, falou:
- Parem de rir! Vamos lá para saber o que aconteceu.
O carneirinho assustado, não parava de perguntar:
- O que foi isso? Por que vocês estão assim?
Cadê o seu pelo fofinho, mamãe? Papai, você não esta com frio?
- Calma, meu filho - disse a mãe. - Nos estamos bem. Pare de chorar, que eu vou lhe contar tudo.
Ouvindo isso, os animais, que já estavam perto, ficaram quietos para ouvir, pois também queriam saber por que os dois estavam sem pelos.
- Filho -  disse a mãe - nos, os carneiros, também temos utilidade. Damos a nossa lá e  com ela que os homens fazem agasalhos e cobertores que os protegem do frio.
Muito feliz, o carneirinho falou:
- Então, nos também somo uteis!
- Claro, meu filho! Nosso pelo vai crescer novamente e será cortado muitas vezes e, assim, estaremos sendo sempre uteis.
- Mamãe, nos somos mais importantes que os outros?
- Não, meu filho. Somos todos filhos de Deus. Cada um de nos e muito importante no ciclo da vida.
                  Os outros animais perceberam o quanto estavam errados. Entenderam que cada um tem a sua utilidade e que tudo na natureza tem muito valor. Pediram desculpas ao carneiro e a ovelha e, daquele dia em diante, passaram a se respeitar e viveram muito felizes

Dar de si mesmo
CÉLIA XAVIER CAMARGO

 Laurinha, embora contasse apenas com oito anos de idade, tinha um coração generoso e muito desejoso de ajudar as pessoas.
Certo dia, na aula de Evangelização Infantil que freqüentava, ouvira a professora, explicando a mensagem de Jesus,  falar da importância de se fazer caridade, e Laurinha pôs-se a pensar no que ela, ainda tão pequena, poderia fazer de bom para alguém.
Pensou...pensou... e resolveu:
-         Já sei! Vou dar dinheiro a algum necessitado.
Satisfeita com sua decisão, procurou entre as coisas de sua mãe e achou uma linda moeda.
Vendo Laurinha com dinheiro na mão e encaminhando-se para a porta da rua, a mãe quis saber onde ela ia.
Contente por estar tentando fazer uma boa ação, a menina respondeu:
-         Vou dar esse dinheiro a um mendigo!
A mãezinha, contudo, considerou:
-         Minha filha, esta moeda é minha e você não pode dá-la  a ninguém porque não lhe pertence.
Sem graça, a garota devolveu a moeda à mãe e foi para a sala, pensando...
-         Bem, se não posso dar dinheiro, o que poderei dar?
Meditando, olhou distraída para a estante de livros e uma idéia surgiu:
-         Já sei! A professora sempre diz que o livro é um tesouro e que traz muitos benefícios para quem o lê.
Eufórica por ter decidido, apanhou na estante um livro que lhe pareceu interessante, e já ia saindo na sala quando o pai, que lia o jornal acomodado na poltrona preferida, a interrogou:
-         O que você vai fazer com esse livro, minha filha?
Laurinha estufou o peito e informou:
-         Vou dá-lo a alguém!
Com serenidade, o pai tomou o livro da filha, afirmando:
-         Este livro não é seu Laurinha. É meu, e você não pode dá-lo a ninguém.
Tremendamente desapontada, Laurinha resolveu dar uma volta. Estava triste, suas tentativas para fazer a caridade não tinham tido bom êxito e, caminhando pela rua, continha as lágrimas que teimavam em cair.
-         Não é justo! – resmungava. – Quero fazer o bem e meus pais não deixam.
Nisso, ela viu uma coleguinha da escola sentada num banco da pracinha. A menina parecia tão triste e desanimada que Laurinha esqueceu o problema que a afligia.
Aproximando-se, perguntou gentil:
-         O que você tem Raquel?
A outra, levantando a cabeça e vendo Laurinha a seu lado, desabafou:
-         Estou chateada, Laurinha, porque minhas notas estão péssimas. Não consigo aprender a fazer contas de dividir, não sei tabuada e tenho ido muito mal nas provas de matemática. Desse jeito, vou acabar perdendo o ano. Já não bastam as dificuldades que temos em casa, agora meus pais vão ficar preocupados comigo também.
Laurinha respirou,  aliviada:
-         Ah! Bom, se for por isso,  não precisa ficar triste. Quanto aos outros problemas, não sei. Mas, em relação à matemática, felizmente, não tenho dificuldades e posso ajudá-la. Vamos até sua casa e tentarei ensinar a você o que sei.
Mais animada, Raquel conduziu Laurinha até a sua casa, situada num bairro distante e pobre. Ficaram a tarde toda estudando.
Quando terminaram, satisfeita, Raquel não sabia como agradecer à amiga.
-         Laurinha, aprendi direitinho o que você ensinou. Não imagina como foi bom tê-la  encontrado naquela hora e o bem que você me fez hoje. Confesso que não tinha grande simpatia por você. Achava-a orgulhosa, metida, e vejo que não é nada disso. É muito legal e uma grande amiga. Valeu.
Sentindo grande sensação de bem-estar, Laurinha compreendeu a alegria de fazer o bem. Quando menos esperava, sem dar nada material, percebia que realmente ajudara alguém.
Despediram-se, prometendo-se mutuamente continuarem a estudar juntas.
Retornando para a casa, Laurinha contou à mãe o que fizera, comentando:
-         A casa de Raquel é muito pobre, mamãe, acho que estão necessitando de ajuda. Gostaria de poder fazer alguma coisa por ela. Posso dar-lhe algumas roupas que não me servem mais? – Perguntou, algo temerosa, lembrando-se das “broncas” que levara algumas horas antes.
A senhora abraçou a filha, satisfeita:
-         Estou muito orgulhosa de você, Laurinha, Agiu verdadeiramente como cristã, ensinando o que sabia. Quanto às roupas, são “suas” e poderá fazer com elas o que achar melhor.
Laurinha arregalou os olhos, sorrindo feliz e, afinal, compreendendo o sentido da caridade.
- É verdade mamãe. São minhas! Amanhã mesmo levarei para Raquel. E também alguns sapatos, um par de tênis e uns livros de histórias que já li.

Maria Vai com as Outras




Sylvia Orthof


A ovelha Maria era mesmo uma Maria-vai-com-as-outras.
Até o dia em que descobriu que cada um pode ter o seu próprio caminho, basta querer.


Era uma vez uma ovelha chamada Maria. Onde as outras ovelhas iam, Maria ia também. As ovelhas iam para baixo Maria ia também. As ovelhas iam para cima, Maria ia também.
           
Um dia, todas as ovelhas foram para o Pólo Sul. Maria foi também. E atchim! Maria ia sempre com as outras.
          
Depois todas as ovelhas foram para o deserto. Maria foi também.
- Ai que lugar quente! As ovelhas tiveram insolação. Maria teve insolação também. Uf! Uf! Puf!
         
Maria ia sempre com as outras.
          
Um dia, todas as ovelhas resolveram comer salada de jiló. Maria detestava jiló. Mas, como todas as ovelhas comiam jiló, Maria comia também. Que horror! Foi quando de repente, Maria pensou:
         
“Se eu não gosto de jiló, por que é que eu tenho que comer salada de jiló?”
          
Maria pensou, suspirou, mas continuou fazendo o que as outras faziam.
         
Até que as ovelhas resolveram pular do alto do Corcovado pra dentro da lagoa. Todas as ovelhas pularam.
       
Pulava uma ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra, quebrava o pé e chorava: mé! Pulava outra ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra e chorava: mé!
        
E assim quarenta duas ovelhas pularam, quebraram o pé, chorando mé, mé, mé! Chegou a vez de Maria pular. Ela deu uma requebrada, entrou num restaurante comeu, uma feijoada.
 
Agora, mé, Maria vai para onde caminha seu pé.
NÉIA E SEUS SAPATINHOS






Néia é um bichinho com quase cem pezinhos. É uma centopéia que gosta de viver entre as pedras de um jardim muito grande.
Néia vive feliz caçando os insetos que aparecem.
Quando alguém a assusta, enrola-se todinha e fica horas e horas quieta até o perigo passar.
Certa vez, todos os bichinhos que moram no jardim resolveram dar uma festa.
Estava chegando a primavera e eles queriam escolher a “Rainha da Primavera”.
Não precisava ser o bichinho mais bonito, mas sim o que se apresentasse de forma diferente, e elegante. E teria de ser surpresa!
E convidaram Néia para ser uma das candidatas.
A partir daquele dia, foi um alvoroço no jardim.
De noite, enquanto todos dormiam, os animaizinhos trocavam idéias, planejavam as atividades e faziam os preparativos.
Mas todos guardavam algum segredo, que seria a surpresa do dia.
Néia pensou na roupa e nos sapatos com que se apresentaria.
E a dificuldade que teria, com cem pés, para conseguir cem sapatinhos iguais.
Será que conseguiria?


Todas as amigas de Néia ofereceram-se para colaborar. Trabalharam bem depressa. Uma semana depois, Néia tinha um sapatinho de crochê com cordão de amarrar para cada pé! E com saltinho de moça!

No dia da festa, enquanto todos os bichinhos ainda dormiam, Néia já começava a preparar-se. Imaginem que teria que calçar e amarrar quase cem sapatinhos! E agora não podia mais pedir ajuda às amigas porque tinha o compromisso de fazer surpresa.
Néia começou a calçar-se: o primeiro pé, o segundo pé... e assim foi continuando.
O tempo passou ligeiro. A festa já tinha começado e Néia continuava pacientemente calçando seus sapatinhos.
O desfile das candidatas também já estava começando...e Néia ainda faltava calçar os últimos sapatos... Néia não desanimou porque era muito paciente!
A última a desfilar foi Néia, que aparece mais bonita do que nunca!
– Oh! Como está diferente e elegante! – falaram todos quase ao mesmo tempo.
– Calçar quase cem sapatinhos? Que paciência para amarrar todos eles! – falaram eles.
No final do desfile foi anunciado o nome da vencedora.
Imaginem quem foi?
Isto mesmo! Néia! Ela ganhou uma cesta de flores com um cartão: “Parabéns à Rainha da Primavera” e uma caixa com cem bombons, que Néia dividiu com as amigas que a ajudaram a fazer os seus sapatinhos.


A DISCIPLINA E A INDISCIPLINA COMO FATORES FUNDAMENTAIS DE FORMAÇÃO DO ALUNO CRÍTICO NO MUNDO ATUAL


A DISCIPLINA E A INDISCIPLINA COMO FATORES FUNDAMENTAIS DE FORMAÇÃO DO ALUNO CRÍTICO NO MUNDO ATUAL

Mário Sérgio Vasconcelos*
Pós-doutor em Psicologia Cognitiva pela Universidade de Barcelona; Doutor em Psicologia Escolar pela USP/SP;
Mestre em Psicologia Social pela PUC/SP


A sociedade contemporânea passa por um momento singular em que as mudanças são muito expressivas. A cada dia, surgem novas tecnologias que influenciam nosso ritmo de vida e alteram as relações entre as pessoas. A inserção irreversível da mulher no mercado de trabalho tem provocado sensíveis transformações no modelo familiar e, com isso, diferentes instituições educacionais são criadas para atender ou cuidar de nossas crianças. As mudanças são tantas nos mais variados setores, que podemos dizer que hoje vivemos não uma época de mudanças, mas uma mudança de época. Estamos no terceiro milênio, globalizados e numa sociedade de mercado em busca da modernização.
Nesse contexto, muitas pessoas sentem-se inseguras quanto ao seu futuro e ao das crianças, não sabendo em quem e no que acreditar. Pais não têm certeza de como educar. Consideram ultrapassados os valores transmitidos pela tradição e se vêem indecisos em saber qual o melhor caminho a seguir. As crianças e adolescentes resistem em respeitar os limites que visam a assegurar uma convivência verdadeiramente democrática e, em alguns casos, reina uma falta de compromisso com tudo e com todos.
No contexto escolar, os professores também estão em dúvida sobre quais caminhos seguir. Em visitas às escolas, temos observado, com freqüência, professores afirmarem, por exemplo, que os alunos perderam o respeito pelas pessoas, que já tentaram de tudo e não sabem o que fazer. Desse modo, manifestam que os bons valores de outrora estão sendo desconsiderados e analisam tal fenômeno como plena crise de moralidade. Essa situação traduz uma ótica pessimista e nos conduz, inevitavelmente, a uma reflexão sobre os valores morais e a ética do cotidiano escolar.
Sem dúvida, as mudanças contemporâneas são motivos que fazem da ética tema de interesse para vários segmentos. A palavra ética está presente nos jornais, nas rádios, na TV, nas livrarias e adentrou também o contexto escolar por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). A ética tornou-se tema transversal indicado para compor a formação do aluno. Pensar a ética no contexto escolar é hoje, pois, uma exigência de lei, que tem por objetivo problematizar valores e regras, visando ao desenvolvimento moral.
Porém é preciso saber de qual ética realmente se fala no cotidiano escolar. Em pesquisa que realizamos com 756 professores de 5 estados brasileiros, tendo por objetivo desvelar as concepções que professores de várias séries de escolas publicas e particulares têm sobre “ética”, constatamos que 78,6% valorizam o termo quando associado à disciplina e indisciplina na escola. Estão imediatamente interessados em estabelecer controles para os comportamentos que consideram inadequados nos alunos.
Na mesma pesquisa, os professores teceram várias explicações para a origem e motivos da indisciplina. A grande maioria (83,4%) atribui as causas da indisciplina a fatores externos à escola. Dizem, por exemplo, que o comportamento indisciplinado vem da família que não soube educar, é conseqüência da violência transmitida pelos meios de comunicação, vem da condição de pobreza dos alunos e do uso de drogas. Uma parcela bem menor (17,6%) de professores atribui a indisciplina a fatores internos ao contexto escolar, como, por exemplo, problemas da escola e falta de preparo do professor.
Com essa leitura da realidade, majoritariamente ancorada em um determinismo externo prévio sobre a indisciplina, ficamos diante de uma espécie de imobilismo no sistema educacional para lidar com a questão. Desse modo, a escola e os professores não podem fazer nada, se vêem desprovidos de mecanismos de atuação e sentem-se isentos de cumprir o seu papel de facilitadores do processo de constituição do sujeito aluno. Assim, movidos pelas incertezas provocadas pelas mudanças contemporâneas, os professores reforçam uma concepção de escola instrucional, muito distante de uma escola formadora necessária à constituição de alunos que saibam lidar com as tendências, diversidades e complexidade de um mundo globalizado.
Atualmente um aluno, mesmo sem freqüentar a universidade, pode permanecer três anos na pré-escola, oito anos no ensino fundamental e três anos no ensino médio. São, no mínimo, quinze anos de escolarização. Considerando todo esse tempo que o aluno passa na escola, não seria o caso de admitir que muitos aspectos organizadores da indisciplina são produzidos no próprio contexto escolar? Além disso, é preciso indagar se a indisciplina é constituída apenas por aspectos negativos.
Do ponto de vista da construção sócio-histórica da infância, a indisciplina sempre existiu. Do ponto de vista da psicologia do desenvolvimento ela é, inclusive, necessária para a superação de limites impostos pelos adultos, até porque nem sempre os adultos estão corretos em suas concepções. Imaginem se nós não tivéssemos sido indisciplinados com as ditaduras instauradas no Brasil no século passado. Provavelmente ainda estaríamos vivenciando um regime extremamente autoritário.
O fato é que a disciplina e a indisciplina são dialeticamente constituintes das relações humanas e da dinâmica das instituições. Então, por que situá-las como algo externo e que não faz parte das relações interpessoais escolares? A disciplina que atualmente perpassa o meio escolar, como em décadas passadas, ainda está direcionada apenas ao desejo do professor de obter comportamentos de obediência dos alunos. Está dirigida ao um respeito unilateral, que tem como finalidade obter a tranqüilidade da sala de aula, o silenciamento e a passividade do aluno. Qualquer variação ao respeito unilateral é interpretada como ato indisciplinado e negativo. Diante desse quadro, o que fazer?
Penso que é preciso reorientar o debate para uma visão inclusiva da indisciplina no contexto escolar. Para uma análise mais completa e ampla sobre a indisciplina, precisamos considerar muitas variáveis presentes nessa realidade. É preciso levar em conta os aspectos culturais, econômicos, institucionais e psicológicos envolvidos nessa questão. Sabemos também que não é possível, num passe de mágica, alterar a escola e as representações que os professores fazem a respeito da disciplina e da indisciplina no contesto escolar. Contudo algumas ações estão ao alcance imediato dos educadores. Nesse sentido, com a intenção de promover aquilo que denominamos de visão inclusiva da indisciplina, vamos apontar dois aspectos que consideramos importantes de serem relevados:
 a. A construção da disciplina e da indisciplina das crianças está diretamente relacionada à tomada de consciência das regras sociais. Tal afirmação implica a necessidade de compreendermos as relações entre a construção do pensamento e a internalização dos limites e das regras sociais pelas crianças e adolescentes no contexto educacional contemporâneo. Sabemos que os limites estabelecidos pelos adultos são fundamentais para a organização do mundo do sujeito. As regras provocam a reflexão para a tomada de consciência e promovem a prospecção do pensamento e dos desejos. Promovem a reorganização funcional do sujeito. As crianças reorganizam-se cognitivamente e afetivamente ao compreenderem, negarem ou tentarem superar as regras. Ao negá-las e superá-las, alguma forma de “indisciplina” sempre esteve presente no desenvolvimento humano.
b. os conflitos são inerentes às relações interpessoais e são fundamentais para o desenvolvimento do pensamento crítico. A indisciplina gera conflitos. É preciso admitir o conflito no contexto escolar. Analisá-lo e torná-lo mais transparente são formas de possibilitar uma convivência institucional democrática e adequada à síntese reversível e crítica. Analisar um conflito supõe analisar os elementos que o compõem, suas causas e não apenas os motivos aparentes que permitiram sua manifestação. Não é papel do professor camuflar um conflito, mas sim possibilitar estratégias que possam propiciar aos alunos o debate e o levantamento de hipóteses para a resolução do conflito. O pressuposto para a construção de um aluno crítico é avançar na exploração da transparência institucional.
Pensamos que proposições dessa natureza possam auxiliar a escola a compreender que a disciplina e a indisciplina são fatores constituintes de formação do aluno crítico no mundo atual. Talvez possam auxiliar na construção de um projeto pedagógico mais próximo das tendências do desenvolvimento humano e contribuir para a elaboração de uma proposta escolar consciente de que o aluno não é, o aluno está sendo.


*vascon@assis.unesp.br 

7 Passos para o Gerenciamento de Sala de Aula


Este é conteúdo do poster do DVD Gerenciamento de Sala de Aula, o qual fiz a pesquisa e escrevi o roteiro. Utilize para não deixar passar em branco nenhuma etapa do gerenciamento, marcando os itens que você já trabalhou.

Até o final de semana pretendo postar trechos dos DVDs Motivação e do próprio Gerenciamento.

0 Liderança em sala de aula
Ter autoridade é muito diferente de ser autoritário. Ao escolher a primeira opção, você estará estimulando seus alunos através de uma comunicação aberta, flexível e afetuosa.

0 Criando regras
Para serem aceitas, as regras não devem ser impostas, mas pensadas e definidas em conjunto com a turma. Negocie com seus alunos e faça com que cada um perceba a importância da sua colaboração para a solução dos problemas da turma.

0 Entendendo as causas do conflito
Busque o máximo de informações que lhe permitam montar o perfil psicológico e social de cada estudante. Conhecendo a turma, ficará muito mais fácil liderar, criar regras e administrar os impasses que poderão surgir.

0 Solução de problemas
Compreender a situação, identificar seus agentes e adequar o discurso à realidade do aluno são alguns passos essenciais para a solução dos problemas que se manifestam ao longo do ano.

0 Barreiras para a aprendizagem
A inclusão de estudantes com hiperatividade, dislexia e traumas familiares deve ser parte da rotina escolar, pois tais fatores interferem significativamente no aprendizado.

0 Empatia entre professor e aluno
Adapte sua comunicação e comportamento de forma a aproximá-lo de sua turma. Aceitar e aprender a trabalhar utilizando a linguagem que seus alunos usam pode ajudá-lo a se integrar melhor e a transmitir o conteúdo de maneira mais clara para todos.

0 Técnicas de ensino
A quantidade de informação que os jovens precisam absorver em apenas 50 minutos é enorme, facilite a vida de seus alunos aplicando estratégias e ferramentas diferentes que auxiliarão na absorção do conhecimento.
( ) Comportamento e ambiente – Avalie se o ambiente não está afetando seus resultados, assim como o de seus alunos e colaboradores.
( ) Gestão do tempo – Organize sua rotina e dedique um tempo para estudos, planejamento de aulas e lazer.
( ) Dinâmicas de grupo – Coloque seus alunos para trabalharem juntos. Esta técnica estimula a socialização e ainda permite que o estudante assuma a responsabilidade de construir o conhecimento com seus colegas.
( ) Tecnologia – Não deixe o quadro-negro e o retroprojetor reinarem absolutos em suas exposições. Insira novas tecnologias como Orkut, Youtube e celulares para inovar.
( ) Memória – Estimule sua memória e a de seus pupilos utilizando técnicas de visualização criativa.
( ) Avaliação – As provas são apenas uma das técnicas que o educador pode usar para avaliar seus alunos. Que tal trocar o papel por algo mais dinâmico como um vídeo, teatro, a criação de um livro ou de até uma história em quadrinhos.




http://priscilaconte.blogspot.com.br/2009/04/7-passos-para-o-gerenciamento-de-sala.html

segunda-feira, 19 de março de 2012

A MOÇA TECELÃ - MARINA COLASSANTI


 
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos  do algodão  mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

 

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta.  Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

Marina Colasanti 
(1938) nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei, mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em amor, Contos de amor rasgados, Aqui entre nós, Intimidade pública, Eu sozinha, Zooilógico, A morada do ser, A nova mulher (que vendeu mais de 100.000 exemplares), Mulher daqui pra frente, O leopardo é um animal delicado, Esse amor de todos nós, Gargantas abertas e os escritos para crianças Uma idéia toda azul e Doze reis e a moça do labirinto de vento. Colabora, também, em revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

Texto extraído do livro “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”, Global Editora , Rio de Janeiro, 2000, uma colaboração da amiga Janaina Pietroluongo, da longínqua Oxford.